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O CHAMADO DA FLORESTA

Um pacto de cidadania de Santa Cruz, Bolívia para o mundo

Aqui estamos, as florestas da Amazônia, dos Yungas e dos Vales, da Chiquitânia e do Chaco boliviano. Por causa de suas florestas, a Bolívia tem o privilégio de ocupar o terceiro lugar entre os 10 países com maior diversidade no mundo e figura entre os 15 países que possuem a maior quantidade de florestas tropicais certificadas no mundo.

Há várias décadas, uma visão institucional tornou possível que o Departamento de Santa Cruz (localizado na parte leste da Bolívia) conte com aproximadamente 12 milhões de hectares de áreas protegidas no país.

Paralelamente, outra visão ganhou força ao expandir rapidamente a fronteira agrícola e pecuária, ignorando o planejamento estratégico e os regulamentos de ordem territorial em vigor, afetando mesmo as áreas protegidas e as reservas florestais e colocando em risco o equilíbrio dos ecossistemas.

Ano após ano, os efeitos das mudanças climáticas começaram a ser notados com maior intensidade; uma estação chuvosa mais curta e uma estação seca mais longa, temperaturas mais altas e chuvas intensas. O impacto não demorou a se manifestar: perda de biodiversidade, flora e fauna em declínio acelerado, erosão, incêndios florestais, inundações e escassez de água.

Dados estatísticos confiáveis ​​mostram que até 2013, quase 6 milhões de hectares foram desmatados em Terras Baixas e Yungas; 78% correspondem ao Departamento de Santa Cruz. As florestas de Chiquitano e o Cerrado estão entre os mais afetados, causando o deslocamento de comunidades indígenas do seu habitat natural e sua migração para as cidades.

Com tantas evidências de mudanças climáticas, não é mais possível ignorar a relação de interdependência que existe entre as florestas e os seres humanos. Estamos unidos por um cordão que nos liga à vida e somos as florestas dessas regiões biodiversas encarregadas de regular, em grande parte, o regime da chuva, a qualidade do ar e o clima do resto do mundo.

O desafio é fazer uma mudança em direção à sustentabilidade, entender que o desenvolvimento não deve passar pelo esgotamento dos recursos naturais e da biodiversidade e recorrer a razão para conseguir um novo pacto através qual os cidadãos e suas autoridades considerem a conservação das florestas como um dever ético e moral inescapável.

Este pacto, enquadrado nos objetivos de desenvolvimento sustentável, não vai impedir ou contradizer a agenda produtiva ligada à segurança alimentar da região e do país. Pelo contrário, trata-se de buscar o equilíbrio, adotando políticas de valorização florestal, promovendo o uso eficiente da terra e desenvolvendo sistemas produtivos sustentáveis.

De Santa Cruz e irradiando para a Bolívia e para o mundo, aqueles que voluntariamente decidem assinar esta carta aberta são essencialmente cidadãos preocupados que querem contribuir para mudar um situação insustentável.

São jovens independentes, ou fazem parte de organizações e grupos ambientais; representantes de organizações sociais, cívicas, políticas, empresariais e ambientais que reconhecem o papel de liderança que têm na defesa e no cuidado dos recursos naturais que foram confiados à sua liderança.

São líderes de opinião e representantes de associações e instituições da sociedade civil e personalidades de renome que influenciam a sociedade.

Todos se juntam a uma causa comum e concordam em assinar o “Pacto da Floresta”, para promover, apoiar, dialogar, desenvolver alianças estratégicas e alcançar acordos e ações concretas.

Como resultado, teremos maiores avanços em pesquisa científica, educação ambiental e produção sustentável, entre outras estratégias de desenvolvimento sustentável.

Essa manifestação valente e oportuna de todos os atores da sociedade civil será reconhecida pelas gerações presentes e futuras como o dia em que um pacto de cidadania em favor das florestas permitiu conservar o patrimônio natural e cultural mais valioso da Bolívia e o mundo.

Santa Cruz, Bolívia, 25 de novembro de 2017